Se você está no mercado de influência faz tempo, sabe que as primeiras interações entre marcas e creators (que nem eram chamados de creators) foram os recebidos.
Isso aconteceu num momento em que as marcas não sabiam muito bem como poderiam se relacionar com essas “pessoas comuns” que, de repente, viraram celebridades da internet e, numa tentativa de aproximação, o recebido virava essa oportunidade de se fazer presente, de dizer: “olha, eu estou por aqui, talvez você goste de mim e queira contar isso pra sua audiência”.
Esse momento jurássico vinha também com um receio das marcas em oferecer dinheiro em troca de um endosso, que, na teoria, só “valia” se fosse espontâneo.
Mas esse receio foi breve, e a #publi se tornou rapidamente uma alternativa mais eficaz de conseguir visibilidade, uma vez que a mensagem, o contexto, o formato e a duração dessa relação passaram a ser pré-definidos e direcionados pela marca. Já os recebidos são sempre uma aposta.
Acontece que, para muitas marcas, por mais que os recebidos sejam “apostas”, eles são a única chance que elas têm de serem notadas e — se tudo der muito certo — divulgadas pelos creators.
E daí… chove recebido.
Tem creator que tem depósito só para recebidos, tem creator que não aceita mais recebidos, tem creator que doa, vende, joga fora os recebidos, tem creator que usa os recebidos como moeda de troca pelo engajamento da audiência. Tem de tudo.
Mas tem Maqui e Karol, que têm uma editoria no canal do YouTube só para os recebidos. E, em um determinado momento, se depararam com tantos recebidos que tomaram uma decisão: só vamos abrir e postar os recebidos de marcas pequenas.
Foi um caminho sem volta, virou tradição, e o vídeo de “recebidos dos pequenos” de 2024, por exemplo, tem mais de 224k views no YouTube e comentários como esse:
Se recebidos não pagam boletos (a gente fala isso muuuito por aqui), Maqui e Karol transformaram os seus em negócios para quem realmente precisa: os pequenos negócios.
E, como essas duas não brincam em serviço, transformaram o conteúdo em evento, e farão este ano a primeira feira só com marcas pequenas, selecionadas entre as recebidas do ano.
A iniciativa tem apoio do Sebrae.
Serão 40 marcas autorais (a maioria de mulheres) que já apareceram em alguma edição do vídeo de recebidos, escolhidas a dedo pelas duas.
"Estamos com esse projeto na rua há 2 anos e finalmente rolou com o apoio do Sebrae. Nossa vontade principal era que nenhuma marca independente precisasse pagar para participar, por isso o apoio era tão importante".
Karol Pinheiro
As comidinhas ficam por conta da chef Renata Vanzetto, que vai levar delícias de alguns de seus famosos restaurantes.
Karol e Maqui selecionaram marcas diversas para garantir que a feira tenha variedade para atender todas as necessidades de comprinhas natalinas: velas, acessórios, papelaria, roupa infantil, decoração, flores e muitas outras opções de produtos.
Já coloca na sua agenda: a primeira YAY SP vai rolar no dia 13/12, das 10h às 20h, na Casa Museu Ema Klabin.
Análise YOUPIX: Quando o “recebido” vira ferramenta de impacto e curadoria cultural
Quem trabalha com influência desde os primórdios sabe: os recebidos foram a porta de entrada para a maioria das marcas no universo dos criadores. Mas também se tornaram um campo minado — tanto para creators que precisam administrar o excesso, quanto para marcas que nem sempre são notadas. O que Karol e Maqui fizeram foi reposicionar esse formato saturado em algo com propósito, valor e impacto.
Por que essa iniciativa importa:
Elas reprogramaram o algoritmo simbólico do recebido. Deixaram de ver o conteúdo como “brinde sem garantia” e transformaram em plataforma de visibilidade para marcas que realmente precisam — pequenas, independentes e majoritariamente femininas.
Criaram um modelo de curadoria que preenche uma lacuna no mercado. Enquanto grandes feiras seguem dominadas por players com verba, a YAY SP surge como vitrine real para marcas emergentes, amparada por influência com legitimidade.
O que isso ensina para marcas e creators:
Para marcas: Recebido não é favor. Precisa ser estratégico, relevante e alinhado com o creator — ou se perde (literalmente). A aposta ainda pode ser válida, mas é preciso tratar como parte da estratégia de influência, não como “tentativa de sorte”.
Para creators: O que você faz com o que recebe diz muito sobre sua visão de marca e de mundo. O excesso pode ser ruído — ou pode ser transformado em conteúdo com propósito, como Karol e Maqui mostraram.